sábado, 15 de setembro de 2012

A irresponsabilidade é a marca da insanidade



Se você gosta dele ou não este é um dado irrelevante. O fato é que Karl Marx é um dos maiores pensadores da História. Precursor do materialismo histórico, Marx anda meio fora de moda há algum tempo – na mídia e nos meios acadêmicos. Mas sua obra é vasta e, volta e meia, merece ser revisitada. Não, eu não farei isso agora. E nem depois, porque não tenho o devido aprofundamento nesses estudos, mas vou recorrer a algo que ele, entre tantas outras coisas, disse: “A religião é o ópio do povo”. O pensador alemão nascido no início do século XIX, portanto há praticamente DUZENTOS ANOS, nos deixou um caminho simples para entender o século retrasado, o passado, este século e, quiçá, o próximo.

Se os espiritualistas estiverem certos, nós, humanos, ainda estamos em um período evolutivo equivalente à “infância”. Assim, partindo-se dessa premissa fica fácil imaginar que para acionar a turba ignara basta uma palavra de ordem. Uma só. E o gatilho pode der disparado da arquibancada de um estádio de futebol, de uma igreja protestante, mesquita, sinagoga, templo católico apostólico, em uma passeata estudantil, numa assembléia de grevistas e por aí afora.

E se UMA PALAVRA BASTA para insuflar a massa, imagine então se criar uma canção, uma peça de teatro ou um filme. E foi o que aconteceu nesta semana, ao ser lançado um filme satirizando o profeta Maomé, fundador do islamismo. Produzida na América do Norte, esta película satiriza Maomé colocando-o como um pervertido. Resultado: MORTE de SETE PESSOAS, entre as quais três diplomatas e o embaixador dos Estados Unidos na Líbia. E pra quem acha que isto terminou, temo dizer que não. Outras consequências de islâmicos ofendidos são perfeitamente previsíveis.

Depois desse verdadeiro caos sócio-religioso, um homem apareceu falando aos jornais, nos EUA, sobre o tal filme e se atribuindo a autoria “da obra”. Mais que isso, teria dito que arrecadou dinheiro junto à comunidade judaica para fazer o filme. Pessoalmente duvido de tudo o que ele disse.

Mas é líquido e certo que em breve vão aparecer o produtor, o diretor etc...

Desde sempre os homens guerreiam, pelos mais variados e fúteis motivos (que alguns imbecis preferem chamar de “estratégicos”). E num momento em que volta e meia se vê brigadistas árabes lançando palavras e ataques contra o estado de Israel, o exército de Israel matando palestinos, líderes muçulmanos criticando a política ocidental, separatistas saindo na mão em vários lugares do planeta, japoneses e chineses discutindo a propriedade de ilhas, Israel ameaçando bombardear o Irã e outros pequenos conflitos sem fim mundo afora... aparece um “mané” e consegue provocar a ira de aproximadamente 1.500.000.000 de muçulmanos! Isso mesmo, dados na ONU indicam a existência de mais de 1,5 bilhão de pessoas adeptas do Islã. Pra arredondar a conta, um quarto da população na Terra hoje é muçulmana.

Mas ainda que não fosse esse o número. Que ao invés de 25% do globo, os muçulmanos representassem 10%. Ou 5%, ou 2%, ou 0,03%... Isso não justificaria a falta de respeito e a provocação barata.

E para melhorar esta percepção, vamos inverter o raciocínio já que no Brasil a grande massa é de cristãos. Dá para imaginar um árabe, ou judeu, ou budista fazendo um filme cujo roteiro traria um Jesus bêbado, pedófilo, um José corneado e a Maria vai-com-as-outras ? Pela minha formação eu não consigo imaginar isso. Tampouco qual seria a reação de UM TERÇO da humanidade (estima-se que haja 2,2 bilhões de cristãos no mundo) contra este autor e, claro, seu país de origem. Pessoas, pensem: é a mesma coisa. Não custa nada lembrar aquele ditado: “Pimenta nos olhos dos outros é colírio...”

Por muito menos que isso Godard passou apertado, nos anos 1980 com o filme “Je vous salue, Marie” (Eu Vos Saúdo, Maria).

Portanto, respeito é bom e ajuda a conservar os dentes já diziam os nossos bisavós. Sábias palavras.

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