sábado, 20 de novembro de 2010

ARTIGO publicado na PLURALE em Site - Tudo passa pela educação. Até o futebol

21/09/2010 | 06:51


Tudo passa pela educação. Até o futebol

Por Nelson Tucci, Colunista de Plurale (*)

Cidadania pressupõe respeito. Não dá se para construir uma Nação decente se não houver o exercício da cidadania plena. E para que esta exista, respeito é fundamental. E respeito deriva da educação. Portanto, para se ter respeito basta ter educação e não necessariamente diploma de nível superior ou pós-graduação em língua estrangeira.

Pessoalmente tenho evitado comentar sobre futebol, tamanha a banalização e os “bem-bolados” que vez ou outra chegam ao noticiário comum. Mas às vezes isto é inevitável, já que vivemos no auto-proclamado “país do futebol”.

Relutei dois dias para não escrever sobre o menino Neymar. Mas não consigo tirar o episódio da cabeça, sobretudo porque fatos vão se sucedendo e botando mais lenha na fogueira. Desisti de resistir. Soltei as amarras e quero opinar sobre Neymar sim, porque não se trata de um simples caso de insubordinação. Enxergo neste episódio uma oportunidade ímpar para discutirmos algo de profunda importância para o nosso país.

Infelizmente o mau exemplo vem de um garoto de 18 anos. O “moleque da vila”, que de uma hora para outra apareceu para o mundo e passou a ganhar 1.176 SALÁRIOS MÍNIMOS por mês, demonstrou que o sucesso lhe subiu à cabeça na mesma velocidade da sua meteórica aparição.

O episódio – lembrando para quem não acompanhou – ocorreu na noite do dia 15 último, uma quarta-feira, durante o jogo Santos x Atlético-GO. No final do jogo houve um pênalti para o Santos e o jogador quis cobrar. O técnico o proibiu e mandou outro jogador fazer a cobrança. O jovenzinho passou a gesticular e a xingar duramente seu treinador. Mais que isso, ofendeu os demais colegas de clube.

A atitude foi tão desproposital que atingiu a todos quanto a assistiram, inclusive o técnico do outro time, o experiente René Simões que chegou a afirmar nunca ter visto nada igual. Indignado, René sugeriu a tomada de uma atitude, pois ali estava “se criando um monstrinho”.

O técnico Dorival Júnior, seu comandante, pediu o afastamento do atleta por 15 dias como punição, mais a multa que a diretoria deve aplicar (fala-se em 30% dos vencimentos, o que daria mais ou menos R$ 180 mil só de multa). Com “cara de nada”, o jogador foi aos microfones e pediu “perdão” pela atitude. Os dirigentes concordaram em afastar o garoto do jogo de domingo último contra o fraquinho Guarani (cujo resultado foi de zero prá todo mundo); agora vamos ver se continuarão deixando-o de fora na quarta, quando o time enfrenta o líder - e arquirrival - Corinthians, vamos ver... Mas a coisa não acaba aí. Isto porque não falta quem lhe passe a mão na cabeça. Seu empre$ário, com a maior desfaçatez, diz que “o treinador (Dorival) está sem moral junto ao grupo” e “quer recuperá-la” em cima do “bibelozinho”, digo, jovenzinho Neymar. “Ele está desvalorizando um patrimônio do Santos”, vociferou o agente.

O técnico da Seleção, Mano Menezes - que tem se mostrado pessoa seriíssima – expressou uma grande preocupação com a atitude do jogador. “Vou conversar com o Dorival como fiz antes da primeira convocação para saber se o que eu estava vendo era a mesma opinião que ele tinha. O que faz um atleta chegar na seleção é o desempenho no clube e o comportamento. Porque quando você chega a um degrau alto, você não pode não ter respeito às pessoas que o ajudaram e o colocaram lá. Ingratidão é pior defeito que o ser humano pode ter”, disse, em entrevista a uma rádio de São Paulo.

Mano não pensou em dinheiro, em valorização ou desvalorização do “patrimônio”. Ele pensou no homem (ou no menino mimado, como é o caso) e deste exigirá postura. Mano fala em respeito. Ele sabe o que é cidadania, afinal.

Espero que a diretoria do Santos tenha a decência de sustentar a posição de Dorival Júnior – outro homem cuja carreira tem revelado competência e integridade – porque se assim o fizer estará verdadeiramente contribuindo com o país, com o menino Neymar e com todos aqueles que lhe tomam como exemplo. Afinal, o menino mimado precisa crescer e se fazer homem, porque é de homens que o Brasil precisa, não de moleques descompromissados.

(*) Nelson Tucci é jornalista, com extensão em Meio Ambiente pela ECA-USP; pós-graduado em Comunicação e Relações com Investidores pela FIPECAFI (FEA-USP), diretor da Virtual Comunicação, palestrante e colaborador da Plurale.
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